Marilena se diz estarrecida e propõe estudo de caso sobre
reeleição de Alckmin
Filósofa pede que acadêmicos se reúnam para tentar encontrar
explicações para quarto mandato do governador em meio a racionamento, denúncias
de corrupção e problemas de gestão por Redação RBA publicado 06/10/2014 11h29min.
A filósofa Marilena Chauí propõe que acadêmicos somem
esforços para tentar entender os motivos que levaram o governador de São Paulo,
Geraldo Alckmin, a conquistar um novo mandato nas eleições realizadas ontem
(5). Em entrevista à Rádio Brasil Atual, a professora da USP afirmou ter
proposto ao presidente da Fundação Perseu Abramo, o economista Marcio Pochmann,
que estude ao longo dos próximos quatro anos os processos que explicam que o
PSDB possa chegar a mais de duas décadas de comando do Palácio dos
Bandeirantes.
“O PSDB tem uma monarquia hereditária. Alguém precisa
entender o que acontece em São Paulo. A reeleição do Alckmin no primeiro turno
é uma coisa verdadeiramente espantosa”, avaliou. Para ela, é difícil explicar
como o governador obtém seu quarto mandato em meio a racionamento de água,
denúncias de corrupção e problemas sérios na gestão pública, como a perda de
qualidade do Metrô paulistano, alvo de denúncias de formação de cartel e
pagamento de propina a políticos do PSDB.
“Por que fico estarrecida? Porque você teve milhares e
milhares e milhares de jovens nas ruas pedindo em São Paulo mais saúde e mais
educação. Se você pede mais saúde e mais educação, considera que são direitos
sociais e que têm de ser garantidos pelo Estado. E aí você reelege Alckmin.
Estou tentando entender como é possível você reivindicar aquilo que é negado
por quem você reelege.”
Ela avalia que o PSDB trata políticas públicas não como
direitos, mas como um produto que a população deve ter recursos financeiros
para adquirir. Nesse sentido, entende também que uma parcela da sociedade
paulista enxerga os avanços que teve ao longo de 12 anos de governo federal do
PT não como uma melhoria no papel do Estado, mas como um mérito individual.
“Não há nenhuma articulação entre a mudança de trabalhador manual para
trabalhador de serviços e as mudanças sociais no país. É visto como uma
ideologia de classe média, que é a do esforço individual.”
Marilena Chauí considera que ainda é cedo para estabelecer
uma relação entre o saldo final das manifestações de junho e o alto número de
abstenções e de votos brancos e nulos – 19,39% se abstiveram, 3,84% votaram em
branco e 5,80% em nulo. De outro lado, ela avalia que o resultado geral das
eleições de ontem, com crescimento de Aécio Neves (PSDB) na reta final da
corrida presidencial e diminuição da representação dos trabalhadores no Congresso,
tem um claro reflexo do trabalho feito pela mídia tradicional pela
despolitização da sociedade.
“Uma das coisas que mais têm acontecido no país é um
processo realizado pela grande mídia, tanto impressa como falada como
televisiva, é um processo que vem vindo aos últimos oito anos, e, sobretudo nos
últimos quatro, de esvaziamento sistemático de toda e qualquer discussão
política. Você tem a operação da comunicação por slogan e algumas imagens. Fora
disso você não tem o verdadeiro debate político. Eu diria que os partidos
políticos são responsáveis também pela ausência de um grande debate político.
Ou porque não têm o que propor, ou porque não querem entrar neste debate.”
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