Formas em relação aos
amigos?”
As amizades podem ser
classificadas, conforme o discípulo de Platão, em três tipos distintos. Essas
espécies de amizade fazem referência às qualidades que as fundamentam. Elas
são: 1) a amizade segundo o prazer, 2) a amizade segundo a utilidade e 3) a amizade
segundo a virtude, ou a amizade perfeita.
Aqueles que fundamentam
sua amizade sobre o prazer o fazem por causa daquilo que é agradável em um para
o outro. Pessoas espirituosas, por exemplo, têm muitas amizades não por causa
do seu caráter, mas sim devido ao prazer que podem proporcionar umas às outras.
A amizade segundo a
utilidade é estabelecida pelo bem que uma pessoa pode receber da outra. Mais
uma vez, as pessoas envolvidas neste tipo de relação não se amam por causa do
seu caráter, mas sim devido a uma utilidade recíproca.
Já a amizade segundo a
virtude só pode se estabelecer entre os homens que são “bons e semelhantes na
virtude, pois tais pessoas desejam o bem um ao outro de modo idêntico, e são
bons em si mesmos.”. Como estes homens são raros, amizades assim também são
raras.
Tanto a amizade segundo
o prazer quanto a amizade segundo a utilidade são geralmente efêmeras,
passageiras, se desfazendo facilmente. Isso ocorre quase sempre se uma das
partes não permanece como era no início da amizade, isso é, se deixa de ser
útil ou agradável. Por essa razão, “quando desaparece o motivo da amizade, esta
se desfaz, pois existia apenas como um meio para se chegar a um fim.”.
Deparamo-nos com este
tipo de amizade em quase todos os períodos de nossa vida. Ao nos lembrarmos das
relações que mantínhamos na escola, por exemplo, podemos identificar facilmente
quantas e quais não foram as amizades que estabelecemos segundo o prazer. As
chamadas pessoas espirituosas, isso é, aquelas pessoas chistosas, cheias de
vivacidade e de graça, mantêm quase sempre um amplo círculo de amizade. Mas
isso não se deve ao que são em si mesmas, e nem por causa do seu caráter, mas
apenas por causa do prazer que podem proporcionar aos outros.
As amizades segundo a
utilidade são também de natureza semelhante. Podemos identificá-la, por
exemplo, nas relações de trabalho entre os funcionários de um escritório. Ou
então quando temos uma equipe ou um grupo que luta por um objetivo ou por um
bem comum. Essas pessoas, neste caso, não se amam e não desejam a companhia
umas das outras por si mesmas, mas mantêm uma relação de amizade porque isso
resultará em um bem para si próprias.
Mas a amizade segundo a
virtude, ou a amizade perfeita, como a chama Aristóteles, é perfeita “tanto no
que se refere à duração quanto a todos os outros aspectos, e nela cada um
recebe do outro, em todos os sentidos, o mesmo que dá, ou algo de semelhante.”.
Neste tipo de amizade,
as pessoas querem o bem uma da outra. Esses homens que são assim amigos buscam
verdadeiramente o bem do seu semelhante, e isso pelo simples fato de serem
bons. Eles “serão amigos por si mesmos, isto é, por causa de sua bondade.”.
Os homens maus têm
amizades apenas segundo o prazer ou a utilidade, nunca podendo ter uma relação
virtuosa, ou uma amizade perfeita. No entanto, os homens bons, por sua vez,
podem estabelecer relações segundo o prazer ou a utilidade, assim como os maus.
Mas apenas os bons podem estabelecer uma amizade segundo a virtude. Neste
sentido, fica clara a correspondência entre ética e amizade.