Print Friendly Version of this pagePrint Get a PDF version of this webpagePDF

quinta-feira, 26 de maio de 2016

AMOR GENUÍNO

Há tempos, muitos escrevem sobre o amor; tarefa difícil, pois sempre faltam palavras para expressá-lo. Mas onde e como começa tal sentimento?! Mantê-lo é possível?

Depois de cada voo, é em casa que estão nossos melhores amigos – nosso amor genuíno – esperando-nos.” Rita L.M.
Um mito, um mistério ou algo que incomoda por não conseguir entendê-lo: esse é o amor? Não há palavras para conceituar, descrever, relatar. Ele – o amor - nasce da simplicidade do olhar, do sorriso, do gesto. Só o percebe quando se aprende a valorizar as qualidades, a admirar as atitudes, a querer estar sempre perto, a sentir saudade de alguém.
É do amor que nascem outros sentimentos tão nobres quanto; afinidades imanentes. Por vezes arrebatador, por vezes doído (ou doido?), por vezes feliz, por vezes angustiante, e sempre indefinível. Misturas, antíteses, paradoxos. Alguns dizem que ele acaba, termina; outros, que não. Na verdade, ele só se transforma. Para o filósofo Heráclito de Éfeso, ninguém entra no mesmo rio uma segunda vez, pois quando isto acontece já não se é mais o mesmo; assim como as águas que já serão outras. Assim é o amor: os vários tipos, os vários jeitos, os vários momentos. Ninguém ama igual o tempo todo, mas ama; e ponto.
Tão abstrato ao senti-lo e tão concreto quando surge o risco e/ou a perda de alguém. O chão abre sob os pés, faz o coração bater descompassado, sufoca. É um querer sem ter como controlar ou ir contra, é uma fera que cresce para defender a cria, é uma força que salta às entranhas, é um trocar de lugar só para a pessoa amada não sofrer, é o coração batendo literalmente em outra morada.
Mas quando se sabe que o amor está ali – à disposição - , esquece-o num canto qualquer do lar. Sim, a maior manifestação de amor se dá entre os familiares; pessoas que convivem diariamente sob o mesmo teto, dividindo as mesmas dificuldades, tristezas, angustias, conquistas, vidas. O que era o seu orgulho, a sua admiração, a sua maior preciosidade, agora o é de outrem. É bastante comum as pessoas rebaterem frases como: “ Nossa, seu filho é um menino de ouro” com “Fique com ele algumas horas para ver se achará isso mesmo”. Ou: “Sua mulher é muito carinhosa, prestativa demais” com “Quer para você? Não aceitarei devolução”. E ainda: “Seu marido parece ser tão bom, que sorte a sua” com “Sorte? É porque você não vive com ele”.
O amor foi dar uma voltinha logo ali, ou a certeza – autoconfiança - de que ele não irá embora é tão grande que o deixa assim, sem o aparente amor? Já disse algum poeta em algum lugar que o amor é como uma flor, precisa de cuidados; cultiva-se. Senão vem alguém, pega a plantinha já sem vida jogada no canto, remove a terra, rega e terá o mais belo perfume e imagem.
O amor genuíno é o familiar: “Sim, meu filho é minha maior riqueza” – não importa as rebeldias dele, pois tudo é fase; “ Minha mulher é muito mais que isso que você está vendo, foi por esse e tantos outros detalhes que eu a escolhi” – lembre-se: você também é insuportável por várias vezes, ranzinza; “ Parece bom, não, meu marido é o melhor homem desse mundo!” – você o escolheu, lembra?!
É , querer dizer o amor em palavras é algo realmente impossível, porém a maior busca deve se ater ao despertar diário desse único – talvez o maior de todos – sentimento. Quando o amor começa na própria vida e se estende as outras que foram escolhidas para dividir os melhores e piores momentos, tudo passa a fazer mais sentido e se conquista a nobreza de se viver com leveza.
O amor é libertário. Não é exigente nem tão pouco perfeito; logo, não o seja também. Como disse João Guimarães Rosa, “...o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam, verdade maior. É o que a vida me ensinou.”
O amor muda ao passo que as pessoas mudam. Se elas mudam cultivando sabores, jamais colherão dores.


obvious