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quarta-feira, 22 de julho de 2015
terça-feira, 14 de julho de 2015
Só Chegamos a Ser uma Parte Mínima do que Poderíamos Ser
A atividade de comprar
conclui em decidir-se por um objeto; mas é também antes uma eleição, e a
eleição começa por perceber as possibilidades que oferece o mercado. De onde
resulta que a vida, no seu modo «comprar», consiste primeiramente em viver as
possibilidades de compra como tais. Quando se fala de nossa vida sói
esquecer-se disto, que me parece essencialíssimo: a nossa vida é em todo o
instante e antes que nada consciência do que nos é possível. Se em cada momento
não tivéssemos à nossa frente mais que uma só possibilidade, careceria de
sentido chamá-la assim. Seria apenas pura necessidade. Mas ai está: esse
estranhíssimo facto da nossa vida possui a condição radical de que sempre
encontra ante si várias saídas, que por serem várias adquirem o carácter de
possibilidades entre as quais havemos de decidir. Tanto vale dizer que vivemos
como dizer que nos encontramos num ambiente de determinadas possibilidades. A
este âmbito costuma chamar-se «as circunstâncias».
Toda a vida é achar-se
dentro da «circunstância» ou mundo. Porque este é o sentido originário da ideia
(mundo). Mundo é o repertório das nossas possibilidades vitais. Não é, pois,
algo à parte e alheio à nossa vida, mas que é a sua autêntica periferia.
Representa o que podemos ser; portanto, a nossa potencialidade vital. Esta tem
de se concretizar para se realizar, ou, dito de outra maneira, chegamos a ser
só uma parte mínima do que poderíamos ser. Daí que nos parece o mundo uma coisa
tão enorme, e nós, dentro dele, uma coisa tão pequena. O mundo ou a nossa vida
possível é sempre mais que o nosso destino ou vida efetiva.
Ortega y Gasset,
'A
Rebelião das Massas'
sexta-feira, 3 de julho de 2015
A ARTE DE SABER DIZER ADEUS.
Às vezes, tudo que
precisamos é saber dizer adeus. A vida se resume basicamente em deixar ir. É impossível
seguir em frente com cargas desnecessárias, com bagagens que não nos pertencem.
Já temos as que nos bastam, então para que o peso morto? É preciso esquecer os
velhos caminhos, os velhos pensamentos, e às vezes, infelizmente, as velhas
pessoas.
Não me entendam mal,
canso de dizer que somos um conjunto das pessoas que tocamos e fomos tocados,
mas ninguém é insubstituível. Absolutamente ninguém. A gente vai vivendo e
aprendendo que algumas pessoas, inevitavelmente, se vão. E não há nada que
possamos fazer para de alguma forma as trazer de volta. E não falo sobre ir
como um eufemismo para morte, falo de ir ao sentido de elas continuarem com
suas vidas, e às vezes, conosco não mais fazendo parte da mesma.
Tentar traze-las de
volta é tão inútil quanto tentar usar uma roupa que não nos serve mais, que
ficou pra trás, junto com o tempo em que pesávamos 5 kg a menos. Não combina,
não serve, falta algo. É tentar encaixar algo em um lugar o qual não pertence,
e esperar um grande resultado. E tudo que acabamos recebendo no fim são
decepções procedentes das expectativas criadas. Existem situações, e situações,
mas uma vez que algo foi embora, que a vida seguiu seu curso, não volte para
trás. É certo que se deve ter a sabedoria necessária para saber diferenciar o não
é a hora com o nunca será a hora. Mas uma vez que algo se perde com tanta
força, acredito não ser passível de retorno.
É tão necessário saber
a hora de soltar a linha, de seguir, de deixar para trás tudo que te prende e
te entristece. Tudo que pesa na sua vida e nas suas costas. Desejo aprender dia
após dia a arte de deixar ir. Pois como eu disse há pouco, algumas coisas não
retornam. E desejo mesmo que não retornem. Quero o novo, o desconhecido. Não
quero algo que me leve aos mesmos caminhos de outrora. Caminhos difíceis,
caminhos incertos. Eu quero o que é novo, mas o que é concreto. Chega de
esperar retornos, chega de esperar confissões que não existem, chega de esperar
que as coisas voltem a ser como foram um dia. Por que daqui a um minuto, nada mais
é como já foi antes. E isso, isso é irremediável.
Será?
Obvious.
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